quarta-feira, 30 de julho de 2008

A INCLUSÃO DO ALUNO AUTISTA

Surge à frente do educador um desafio: incluir na classe um aluno designado como portador de necessidades especiais ou deficiente (o aluno autista, em questão); a complexidade desde desafio sucita no professor uma angústia, onde na maioria das vezes se pergunta: “O que posso fazer”? “O que devo fazer”? “O que devo esperar”?

Esse aluno, por sua vez, está em uma situação igualmente delicada. Da rotina em que se encontrava viverá a transição para uma nova situação. Talvez não traga consigo uma queixa manifesta, mas é certo que terá de se adaptar a um novo contexto; pois novas pessoas e novas circunstâncias o aguardam. É preciso, então, que seja muito bem-acompanhado nesta etapa de transição. Ele deverá ingressar em uma sala de aula já constituída, já acostumada a uma realidade plena de êxitos e, algumas vezes, de fracassos.

A questão está posta, o educador ao receber esse novo aluno de inclusão (o aluno autista), procurará transmitir a ele, ou pelo menos tentar, o que transmitir, com as inúmeras dificuldades já encontradas com os outros alunos “normais”. O educador então irá em busca de novos conhecimentos e saberes para melhor atingi-lo; nascendo as primeiras hipóteses sobre como lidar com ele; o que se faz compartilhada com outras áreas e profissionais, além dos da área pedagógica.

Para Bossa (2002) trata-se de um compromisso ético entre aqueles que propuseram a experiência da inclusão e aqueles que devem experimentá-la no cotidiano difícil de uma sala de aula. A busca de suporte teórico deve congregar saberes do serviço social, da neurologia, da psiquiatria, da fonoaudiologia, da psicologia e da psicomotricidade; para que o educador tenha em sua prática algo a comunicar e acrescentar. Não que os conhecimentos pedagógicos a respeito da inclusão sejam de menor valor, mas, outras áreas são necessárias para uma visão global, para aumentar o espectro de visão em relação as suas concepções acerca do aluno autista.

O ideal, mas muitas vezes ausente na realidade educacional de nosso país, é um diagnóstico e um trabalho transdisciplinar, para melhor atender e acompanhar o aluno autista; onde as diferentes áreas se reúnem para compor uma equipe onde partiriam então para um diálogo sobre o processo de inclusão, onde a solução de problemas seria reflexo dessa comunhão entre as diversas áreas de conhecimento. Sobretudo, não se trata apenas de contribuições interdisciplinar, mas se faz necessário ir além, é preciso a “costura” entre os diversos saberes, para assim resultar numa visão realmente transdisciplinar. Pois, a interdisciplinaridade, muitas vezes, possui a característica de privilegiar um saber sobre outro, já a transdisciplinaridade, as fronteiras entre os saberes dissolvem-se em favor de um conhecimento compartilhado para a geração de novos dispositivos.

Apesar das más condições de trabalho em termos materiais, de infra-estrutura de recursos humanos e de material no panorama das escolas públicas brasileiras; o trabalho de inclusão de um aluno autista não deve reduzir-se apenas aos muros da escola. Deve e precisa dialogar, além da família, com o posto de saúde da comunidade, com as diversas instituições de saúde e de serviço social e comunitário que atenda ou pode vir a atender o aluno autista, como é feita na Associação Mineira de Reabilitação, num movimento para a melhor compreensão desse sujeito, onde um olhar transdisciplinar é a ferramenta que exige humildade e disposição para transitar nas diversas áreas do conhecimento.

A escola e o educador não estão sozinhos nesta árdua missão, precisa e deve apoiar-se em outros “olhares” para a efetivação do trabalho de inclusão. O educador, precisa envolver um procedimento abrangente e estruturado de ensino-aprendizagem ou de re - aprendizagem; pois mesmo compreendendo o autismo a partir das correntes psicológicas, a educação efetivamente deve ser usada como técnica para o alcance dos objetivos educacionais desses alunos. Esses objetivos são normalmente em torno de adquirir as habilidades básicas, como de comunicação e autonomia.

Há toda uma demanda da Educação Especial apontando para as propostas inclusivas com alunos autistas, uma demanda para um atendimento educacional de qualidade e com formação de professores que de fato permita uma intervenção pedagógica consistente. Mas, infelizmente essa demanda chega às escolas públicas e privadas antes da preparação dos educadores e na maioria das vezes a solução tem sido a capacitação do profissional em serviço, através de programas de formação continuada.

As práticas pedagógicas eficazes e apropriadas às crianças autistas são imprescindíveis para a evolução desses alunos, mas para isso o professor precisa planejar e desenvolver seu trabalho embasado em referencial teórico e em assessoria pedagógica psicológica adequada, além de reflexão crítica a cerca do sentido da educação e de suas finalidades. Segundo Bosa (2002) quando se trata do indivíduo portador de autismo, é importante considerar alguns aspectos relevantes para o entendimento das suas necessidades educacionais, mas é preciso ter muito cuidado, pois há relatos de experiências de inclusão de alunos autistas que sem as devidas adaptações, resultaram em práticas excludentes. Alunos autistas não aprendem sem um suporte devido, afinal eles possuem uma forma própria de aprendizagem e interação com o meio.

A abordagem desenvolvimentista sobre o autismo representa um avanço teórico-metodológico para a intervenção psicopedagógica na educação das crianças autistas, mas segundo Bosa (2002), apesar de ser a mais adequada para os ambientes inclusivos, nem sempre a realidade permite a aplicação desta teoria. Na maioria das vezes a abordagem utilizada é a comportamental e aprendizagem é sinônimo de condicionamento do comportamento.

Entretanto, percebemos que apenas isto não basta, pois a inclusão é uma questão ética que envolve valores fundamentais, pois a obsessão pela inclusão pode representar uma forma de tornar invisíveis as diferenças, e, portanto, um profundo desrespeito à identidade. E é essa uma das questões que devemos pensar ao incluir, na escola, um aluno autista, sendo nossa intenção a de educá-lo ou de “normaliza-lo”? Incluir ou não um criança autista numa escola regular é uma decisão que merece muita reflexão; pois a mesma deve usufruir da educação em um ambiente positivo de aprendizagem.

O trabalho de inclusão do autista pode ocorrer dentro ou fora de uma classe inclusiva, ou ainda de uma forma intermediária de ambas as propostas. Tanto a decisão radical da segregação como de propostas inclusivas podem vir a representar formas inadequadas de educação se forem formas únicas de educação, sem serem feitas adaptações. E para um trabalho de inclusão de qualidade com alunos autistas, se faz necessário que a escola conheça as características desde aluno e promova as acomodações físicas e curriculares necessárias. O treinamento dos educadores deve ser constante, além da busca por novas informações. A escola deverá preparar-se, para atender a diferentes perfis, visto que os autistas podem possuir diferentes estilos e potencialidades. Os educadores devem estar cientes que o processo avaliativo deve ser adaptado, além de estar ciente que para o autismo, conhecimento e habilidades possuem definições diferentes.

Segundo Cutler (2000), a atividade física regular é indispensável para o trabalho motor, sendo necessário desenvolver um programa de educação paralelo à inclusão e nas classes inclusivas, a criança autista deve participar das atividades em que ela tenha chance de sucesso, especialmente das atividades socializadoras. A escola deverá estar atenta às necessidades do individuo e ter o cuidado de planejar com a família o que deve ser feito ou continuado em casa.


Enfim, para que haja inclusão, é necessário que haja aprendizagem, e isso traz a necessidade de rever os nossos conceitos sobre atividades e intervenções pedagógicas. Sendo assim, as atividades de vida diária possa se constituir em currículo, além de oficinas variadas (horta, oficina de culinária, música, teatro, brinquedoteca, entre outras, conforme sugeridas na teoria psicomotora), dinâmicas de grupo e atividades que ultrapassam os muros da escola como: excursões, compras no comércio local, visita a museus, etc.

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